terça-feira, 3 de maio de 2022

Os Protetores das Florestas Contra os Malvados Destruidores























I - Os Protetores da Floresta Planejam Como Expulsar os Malvados Destruidores


                 Uma horda de malvados invadiu a floresta amazônica, causando-lhe penosa destruição, e Curupira, protetor das matas e das caças, com seu corpo peludo e seu único olho no meio da testa,  resolveu convocar as entidades da floresta para uma reunião, com o fim de tomarem uma atitude para banir da floresta aquela maldição. E todos então atenderam ao chamado: a Caipora, com sua estatura pequena de índia duende e seus cabelos avermelhados; a Cuca, a velha bruxa com cabeça de jacaré; o Saci, pretinho de uma perna só, com seu gorrinho vermelho e seu inseparável cachimbo na boca; a Mula sem cabeça, com sua labareda de fogo acima do pescoço em lugar da cabeça; a Iara, com seu corpo de linda sereia, metade peixe, metade mulher e  seus longos cabelos verdes; o Boitatá, com seu formato de cobra, expelindo fogo através dos seus vários olhos ao longo do corpo; o Boto-cor-de-rosa, todo num terno branco e um chapéu cobrindo o buraco sobre sua cabeça; o Mapinguari, todo coberto de pelos, com seus braços longos e garras afiadas e uma enorme bocarra à altura do umbigo,  e também a Boiúna, a enorme cobra escura.

                E a todos ali presentes, Curupira passou a expor a situação: o reino onde viviam estava ameaçado por homens maus. A floresta estava passando por grande agonia, sendo atacada sem dó. A natureza estava clamando por sobrevivência; as plantas, os bichos e os índios já não tinham mais sossego. Estavam tocando fogo na floresta; árvores milenares estavam sendo destruídas. As aves logo já não teriam mais onde pousar e fazer seus ninhos; os bichos já não teriam mais onde ficar, e muitos já haviam morrido queimados. E mais: o chão da floresta estava sendo todo escavacado e revirado por homens cruéis, gananciosos, em busca de minerais, e assim estão lançando venenos nas águas dos rios, matando os peixes que ali vivem e envenenando os bichos e os índios que daquela água bebem; e assim adoecendo e morrendo também. 

                Curupira invocava pelo auxílio de todos ali, pois não se podia mais tolerar aquela tragédia, dizendo que a floresta não era apenas reino dos índios, das matas e dos animais, pois era reino de todos eles ali também, e que deixando de existir a floresta, eles deixariam de existir também; que os índios têm lutado para proteger a floresta, mas também os índios os malvados estão matando também. Curupira por fim encerrou seu discurso dizendo:

  • É nossa obrigação defender a floresta desses destruidores e salvar as matas,  os índios e os bichos. E salvando a floresta estamos protegendo a nós também, pois não existimos sem a floresta.  E agora eu quero ouvir o que vocês têm a dizer.

               A Caipora foi a primeira a responder, e concordou que era dever de todos li proteger a floresta; que os animais não podiam passar por aquela agonia sem que se tomasse uma providência; que os malfeitores iriam se dar muito mal, pois eles iriam botar os facínoras pra correr ou fazê-los morrer ali naquele chão sagrado. E todos assentiram com a sua fala.

                Em seguida, a Cuca se manifestou, muito indignada com aquela situação. Concordou que a floresta é o reino de todos eles ali, que deviam atender seu pedido de socorro e que aqueles facínoras iriam se arrepender mil vezes  de terem botado seus pés sujos na floresta. E todos vibraram com sua fala aos brados e urros.

                Logo em seguida foi a vez do Saci se manifestar, e se mostrou muito revoltado com a ação sinistra daqueles homens perversos. Disse que não via a hora de aprontar suas traquinagens pra cima dos desalmados. Disse ainda que a hora dos cruéis não tardava, e que a paz e a harmonia voltaria a imperar entre todos ali. E todos ficaram satisfeitos com a fala do Saci.

                  A Mula Sem Cabeça não se continha de raiva, e toda irada bradava com voz arrepiante, dizendo que aqueles assassinos mereciam severas punições pelas terríveis agressões à floresta sagrada; disse mais: que jamais quereria estar na pele dos desgraçados. E quanto mais irada falava, mais o fogo sobre seu pescoço se avolumava. E todos fizeram coro com a Mula Sem Cabeça com grande alarido.

                   A Iara na sua vez falou que já não podiam mais esperar, que a floresta já estava sofrendo demais e que urgia fazer algo para parar aqueles miseráveis, e que deveria pagar com a vida quem estava levando morte à floresta querida. E todos ali aplaudiram a sua fala.

                   Foi então que o Boitatá se pôs a falar, dizendo que não podiam mais aceitar tal descalabro, e que a toda aquela maldição deveriam pôr um fim o quanto antes. E ainda disse que aqueles bandidos iriam mandar de volta pros infernos de onde jamais deveriam ter saído. Todos acolheram com entusiasmo a sua fala.

                    O Boto-cor-de-rosa reforçou que era importante aquela reunião e a união de todos para afugentar aqueles malignos da floresta, e que os desgraçados iriam ver com quantos paus se faz uma canoa. E todos sentiram vigorosas as suas palavras e as apoiaram.

                     Por fim a Boiúna falou, e disse estar muito irritada com toda aquela invasão desses elementos tão nefastos e que eles iriam ter o que pediram. Que era hora de agir com todo o rigor com que os bandidos mereciam. E todos concordaram também com a palavra da Boiuna.

                       Curupira ficou muito satisfeita que todos concordaram de que deviam unir forças para salvar a floresta da extinção a que os canalhas estavam querendo condenar a sagrada floresta. E começaram então a traçar os planos de ação. 

                       

   II - Os Protetores da Floresta Põem em Ação Seus Planos Contra os Malvados Destruidores 


                         Os malfeitores estavam lá destruindo a floresta. Tudo era só devastação ao redor. Uma enorme extensão de área desmatada. Aquela parte da floresta era barro, poeira e lama. Centenas de enormes tocos de árvores derrubadas. E ainda grandes partes das matas queimadas, incendiadas. Ali já não podia mais a onça caçar, a cobra rastejar, as aves fazerem ninhos, pousarem; os macacos ali não podiam mais de galho em galho pular. E os malvados seguiam ainda mais e mais destruindo.

                         Mas os guardiões da floresta já estavam prontos para fazerem frente aos desgraçados destruidores; e já estavam a pôr em ação o planejado. E assim o Saci já houvera visitado seus acampamentos e já lhes tinha aprontado umas segundo seus merecimentos. E foi assim que os malvados pela manhã ao escovarem os dentes, sentiram ardência pior do que a mais ardente pimenta da região. E foram a lavar as bocas desesperados, mas a ardência não passava, não. E chiavam de dor e começaram uns a culpar os outros, e acabaram brigando e uns aos outros acusando e esbofeteando.  

                  Levou um bom tempo para a ardência passar e as bocas desincharem. Mas quando foram tomar café, este estava com um gosto tão ruim, intragável, e o pão também estava todo mofado, com aspecto horroroso, e todo o leite azedado, horrível. E bem mais do que isso o Saci houvera aprontado. Mas continuavam um ao outro culpando, e,  assim, brigando e se esmurrando. E ficaram então com fome, além de hematomas e arranhões das brigas que travaram. E assim se foram para cortar mais árvores os malvados. Mas quando ligaram a motosserra, esta passou a sacolejar, e a soltar uns pipocos estranhos, uns estalos, e não dava pra segurar; e assim caiu no chão se movimentando descontrolada. E assim a motosserra saiu rastejando pelo chão, perseguindo os malvados, que pulavam daqui e dali a fugir; e se embrenharam  nas matas de urtigas e espinhos; e outros deram com a cara no chão. E por fim a motosserra deu um estouro final, soltando uma porção de fumaça preta. E os malvados, uns olhando aos outros assustados, e começaram a culpar uns aos outros de danificarem a máquina, e começaram a brigar de novo, trocando bofetes, enquanto o Saci, de parte, se divertia à beça, rindo daqueles malvados abestalhados. O Saci houvera ali aprontado suas boas traquinagens. 

                    Os malvados já com uma pulga atrás da orelha começavam a desconfiar que algo estranho estava acontecendo, e um deles resolveu então pegar o garrafão de cachaça. E quando tomaram uma talagada, cuspiram fora, gritando de dor: a cachaça estava queimando pior do que gasolina; os malvados ficaram arfando e sofrendo com muita dor. Foram ao tonel de água para se aliviarem, e já não tinham mais o que fazer então. Resolveram ligar para o chefe, o miseravão que os tinham enviado para cometerem na floresta aquela degradação. E o chefão respondeu que iria mandar um avião, com motosserras, mantimentos e mais combustíveis, que era para bem mais matas incendiar. E assim ficaram ali o avião a esperar.

                     A Curupira e o Saci  estavam ali a se divertirem com os perrengues que os malvados estavam passando com as traquinagens que o Saci lhes aprontou, e resolveram chamar a Cuca para lhes aprontar uma arte para recepcionar o avião que estava para chegar. 

                    Os malvados estavam aporrinhados, sem poder tomar café, sem poder tomar cachaça, e já sentiam muita fome; e então foram comer seu feijão com arroz. Mas o feijão com arroz estava cheio de bichinhos asquerosos, como morotós; a carne estava apodrecida; e então ficaram com muita raiva, e de novo culparam uns aos outros e se esbofetearem a até não aguentarem mais…  E assim ficaram passando fome, gemendo das dores dos arranhões e hematomas dos bofetes das brigas, cansados, esperando que viesse logo o tal avião.

                     Enquanto isso, no acampamento dos garimpeiros, os malvados destruidores também estavam passando seus perrengues. O Saci havia aprontado a mesma arte  nos seus mantimentos e maquinários: pasta de dente ardendo pra valer, café fedorento, pão bolorento, cachaça queimando como ácido, feijão com arroz cheios de bichinhos asquerosos como morotós. Nada puderam comer ou beber e ainda ficaram com as bocas ardendo que nem fogo. E também estavam cheios de hematomas e arranhões, pois passaram uns aos outros acusarem e se engalfinharem em pesadas lutas. O Saci ria, de parte. E as máquinas e os tratores que usavam no garimpo também deram seus piripaques, e saíram andando sozinhos descontrolados, perseguindo os malvados, que fugindo delas se embrenharam em matas de espinhos e urtigas e meteram também as caras no chão. E, por fim, as máquinas depois de andarem sozinhas descontroladas, deram seus pipocos finais, soltando uma porção de fumaça preta! E o Saci, de parte, rindo.

            E os malvados do garimpo ficaram também com uma pulga atrás da orelha, pois acharam muito estranho aquelas coisas acontecendo a um só tempo. E também resolveram ligar para o seu líder, que os enviaram para aquela destruição, toda aquela escavacação de terras, lamas, e venenos correndo para os rios, matando os peixes, envenenando os bichos e as gentes, o miseravão-mor. E o miseravão-mor respondeu que iria ver a situação de perto. O Saci e a Caipora estavam de parte ouvindo a conversa e resolveram convocar a Cuca e a Iara para aprontar uma recepção pro miseravão-mor. Mapinguari e a Mula Sem Cabeça também iriam atuar. 

              E lá no acampamento dos malvados derrubadores de árvores e incendiadores de matas , o avião com combustíveis, motosserras e mantimentos chegava. E a Cuca então, velha bruxa, se transformou numa gigante borboleta negra e voou em direção ao avião, e ficou voando com gigantes asas negras abertas na frente do para-brisa do avião, tapando a visão do piloto, que assim não podia ver a pista de pouso e acabou descendo com o avião de bico no lamaçal de um pântano ali próximo. Uma enorme sucuri tratou de levar o piloto dos malvados para o fundo do rio.

              Após isso, o Boitatá, com seu corpo de cobra em fogo, foi pelo acampamento dos malvados, tocando fogo em tudo: suas barracas, suas camas, suas roupas; foram tudo queimando. E  eles saíram correndo em grupo dentro das matas, fugindo do Boitatá que estava destruindo tudo ali. Já era noite e o grupo de malvados em fuga na escuridão deram de cara com a Mula Sem Cabeça fazendo visagem , cheia de ódio, as labaredas enormes acima do pescoço. Os malvados ficaram apavorados, paralisados de medo. E seguiram então noutra direção e aí deram de cara com o Mapinguari, a bocarra enorme ameaçante, os malvados em pânico debandaram, cada um pro seu lado, se perderam na escuridão da mata, e as onças famintas saíram a procurá-los.

               O acampamento dos derrubadores de árvores estava destruído, porém barcas cheias de toras de madeira haviam saído pelo rio, levando as árvores assassinadas, e os malvados gananciosos já contavam com a venda delas. Mas mal sabiam o que lhes esperavam. Pois o Boto-cor-de-rosa jogou entulhos do fundo do rio nos motores das embarcações, causando panes nos motores e parando as embarcações. Os malvados ficaram sem entender o que estava acontecendo, foram pra fora das embarcações a olhar em volta.  De repente dera de cara com uma gigante cobra escura, que ameaçadora apareceu, e os malvados entraram pras embarcações assustados, e com uma força descomunal levantou, virou e afundou as embarcações. As toras de madeiras ficaram a boiar no rio, enquanto jacarés trataram de levar os malvados dali para o fundo do rio ...

              E lá no acampamento dos malvados garimpeiros estava chegando o helicóptero do líder da destruição. E era um helicóptero militar. E a Cuca se transformou de novo numa enorme borboleta negra e apareceu assustadora bem na frente do piloto do helicóptero, tapando sua visão.  O piloto, assustado, com os olhos super arregalados, sem poder ver nada além daquela borboleta gigante horrorosa, começou a perder o controle do helicóptero, que começou a girar, girar, girar e acabou dependurado no alto de uma alta árvore ali próxima. O líder dos malvados, o miseravão-mor, conseguiu pular de paraquedas a aterrizar. Os outros que ficaram lá em cima na árvore, os macacos foram lá pra pegá-los, e eles, tentando fugir, acabaram se despencando lá de cima em baixo.

              O miseravão-mor, depois de aterrissar, se livrou do paraquedas e foi caminhando até o acampamento do garimpo. E caminhando até o garimpo maldito, passou próximo a um rio e ali viu uma bela mulher que chamou para com ela nadar. Miseravão-mor não resistiu, tão sedutora ela era , e todo se achando, mergulhou no rio e logo já estava acarinhando os seus cabelos verdes. Iara perguntou a ele o nome, e ele todo se achando respondeu: 

  • Meu nome é Bozo Jamal!

   Iara deu um sorriso  e logo o segurou pelo pescoço e levou para o fundo do rio para nunca mais voltar. E assim foi o fim do miseravão-mor destruidor da floresta.

               E então foi a vez do Boitatá com seu corpo de cobra de fogo aparecer no acampamento dos malvados garimpeiros e pôr fogo em tudo por lá. Nas barracas, nos maquinários , nas suas roupas, nos mantimentos.  Os  malvados garimpeiros correram, horrorizados com aquela serpente com corpo exalando fogo, queimando tudo ali, e se foram pela mata adentro na escuridão e então deram de cara com a Mula sem cabeça, enorme, corpulenta, com uma grande labareda de fogo em lugar da cabeça e fugiram pra outro lado espavoridos, até darem de cara com o Mapinguari, monstruoso, com a bocarra na barriga ameaçadora. Ficaram tão atemorizados que saíram correndo cada qual prum lado da selva, se perdendo por entre as entre as onças famintas.

            Outros malvados estavam na mata com inúmeros animais aprisionados para levá-los da floresta, seu lar, para comercializar aquelas pobres criaturas. Caipora, que estava no encalço desses elementos quando os encontrou então soltou uivos assustadores. E os malvados perversos, fugindo temerosos, acabaram pelos pés pendurados, caídos  em armadilhas que o Caipora já tinha pra eles armado. Assim esses desalmados iriam parar de praticar seus horrores àqueles pobres, inocentes animais, todos em pequenas gaiolas oprimidos, pelos maus tratos muitos adoecidos e outros já morrido; papagaios, araras, micos, iguanas e tantos outros animais.Caipora soltou todos eles à liberdade da mata, que  cativeiro não iriam sofrer mais. Os malvados ficaram lá nas árvores pendurados. As onças iriam deles cuidar.


III - E Enfim a Paz Reinou na Floresta.


          E enfim a paz e a harmonia à floresta sagrada voltou a reinar. As entidades protetoras livrou enfim a floresta daqueles malvados, pondo um fim de vez  a toda aquela agonia e sofrimento que estava passando: as matas sendo devastadas, os seu animais sendo assassinados ou sequestrados, seu chão todo sendo escavacado, suas águas envenenadas…  Seus protetores a livraram de tal tormento e  a floresta voltou a viver tempos de paz; a floresta dos índios, das matas, dos bichos; a floresta acolhedora, reino da Curupira, da Caipora, e outras entidades, suas protetoras.

          E assim, a onça voltou a caçar, os macacos voltaram a pular de galho em galho, a cobra pode rastejar em paz, as aves a fazer seus ninhos nas altas árvores, as araras, os papagaios, os periquitos e tantas outras…. E assim os rios ficaram livre dos venenos, e os animais e os índios podiam beber dele tranquilamente; o rio dos peixes, dos jacarés, do peixe-boi, do boto cor-de-rosa…


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