Maurici Zuara está agora indo em
visita à casa de um dos seus irmãos o
qual já não vê há algum tempo desde que
passara por sua aguda e intempestiva
crise. Quando de sua crise, Zuara
andou irascível e brigado com o mundo, pois se embrenhara em suas dificuldades
de seguir no seu desejo , na sua desmedida ambição desde seu sonho; que o céu
não é mesmo perto; andava atormentado ; e uns ou outros vendo-o naquela
agonia ainda lhe pilheriavam, como é de praxe. Assim , nesse seu tempo de contrariedade , de cólera e de
delírio, acabava por agredir verbalmente um ou outro que entendesse como abusador
de seu azar. Desta forma , nem mesmo aqueles a quem ligado por laços
consanguíneos foram poupados de xingamentos e impropérios quando na contrariedade
; Maurici Zuara se sentia abusado. Desta
forma , até seus próprios irmãos não foram poupados de impropérios quando do surto de Maurici Zuara. Mesmo sua mãe ,
coitada , teve que ouvir seus impropérios desde a ira de Maurici Zuara. Após
retornar definitivamente da viagens distantes que Maurici Zuara fizera nos altos e baixos do seu processo de surto , após
completar seu aprendizado e retomando seu senso, voltou
para sua cidade; resolveu visitar seus pais e seus irmãos. Seus pais já
se encontravam separados e seus irmãos casados. Quando visitou sua mãe , esta o
recebeu com alegria e satisfação de ver o filho restabelecido ; o mesmo foi
quando visitou seu pai , e quando visitou a maior parte de seus irmãos. E deu
um presente a cada um deles. Zuara percebera com satisfação que nem seus pais
nem seus irmãos falou nada do passado , nem pergunta sobre o que lhe acontecera
; nenhuma cobrança , subentendendo-se que era normal que tivesse passado seus
apuros e reagisse como reagiu ; acontece.
Maurici Zuara assim entendia. Porém faltava ainda visitar um de seus irmãos. Para a casa desse irmão estava Maurici Zuara se
encaminhando agora e levando o presente para lhe presentear.
Maurici Zuara contava com que este
irmão o recebesse com a mesma alegria e naturalidade com que os outros irmãos e
seus pais o receberam , porém , quanto a este irmão , não sentiu o mesmo
comportamento. Não demonstrou desagrado
aparente , mas também nenhuma empolgação , nem demonstração de alegria
esfuziante. Lhe respondia secamente, talvez até com algum desprezo. Maurici
Zuara ficou em dúvida se dava ou não o presente a este
seu irmão. Não lhe pareceu que o aceitasse ainda como irmão no coração. Talvez
ainda guardasse alguma mágoa dos tempos de sua cólera ; talvez até tivesse sido mais duro com ele
em alguma palavra e ele então guardou alguma mágoa. Também poderia ser aquele o
seu jeito mesmo de ser e essa tal antipatia que Maurici Zuara percebeu pode ter
sido uma impressão ; ou não. De qualquer forma , Maurici Zuara omitiu o
presente e resolveu não dá-lo ainda. Achou que não era ainda o momento certo
para fazê-lo , pois se seu irmão tinha guardado dele algum rancor, o presente
poderia soar como pretexto de comprá-lo a consciência. Zuara despediu-se ,
agradecendo a acolhida do irmão e prometendo voltar outro dia.
Maurici Zuara tomado de dúvidas foi
procurar o Guia Espiritual da cidade para se aconselhar sobre como deveria
proceder .
- Então você quer saber se seu irmão
o tem em boa conta ou se guarda contra você alguma mágoa ? _ Comentou o Guia
Espiritual , após ouvir de Zuara seu dilema.
- Pois então , Mestre. Eu estou
angustiado, em dúvida ; quero muito
presenteá-lo , mas não quero que pareça que estou querendo compensá-lo por
qualquer mal que ele ache que lhe tenha feito.
- Você disse bem : “que ele ache “ ,
pois mal nenhum você pode ter causado a ele nem a ninguém em função do drama
que por que passou. Agredir verbalmente é natural do surto ; não se deve
guardar nada de uma pessoa nestas
condições , ainda mais de um irmão ; ninguém tem culpa de ficar doente. – Completou o Guia.
- Pois então ... Meus pais e meus outros irmãos me receberam
no coração com alegria. Mas este irmão não demonstrou satisfação alguma ao me ver após um bom tempo. Quem sabe
tenha sido mesmo um tanto mais duro com
ele nos meus tempos de cólera ; quem sabe toquei em algum ponto sensível dele e
ele então não esqueceu , e não esquecerá. – Maurici Zuara pôs a
cabeça entre as mãos , preocupado.
- Seja lá o que tenha sido , não se
deve guardar , pois estava você fora do seu senso normal. Não foi sua culpa.
Talvez seu irmão ainda não tenha amadurecido o suficiente para entender. Talvez
ainda não aprendeu. – O Guia ponderava.
- Talvez , Talvez... E se realmente
ele guarda algo ? Se ele tem algum ódio recolhido ? Como saber ?
O Guia Espiritual pensou um pouco e
falou :
- Se realmente lhe preocupa o
sentimento que seu irmão nutre por você, faça como vou lhe dizer : visite-o
mais vezes ; você vai perceber se seu coração se abrirá pra você ou se se manterá do mesmo modo ; se se mantiver do
mesmo modo pode ainda ser a natureza fechada dele , aí você deverá fazer um
teste. O que geralmente mais as pessoas têm como importante é o seu dinheiro. Descubra onde ele
guarda o seu dinheiro. Quando tiver uma oportunidade , em sua ausência pegue
uma quantia , não muito , apenas uma cédula de valor mediano e ponha sob o
tapete da sala e escreva um bilhete lhe comunicando que pegou emprestado , diga
que para comprar remédio ou comida , algo assim de necessidade e veja qual é a
reação dele. De acordo com a reação de seu irmão você saberá se ele gosta ou
não de você.
- Mas é claro que ele vai se irritar
e me culpar. Afinal , eu peguei o dinheiro dele sem o consentimento. – Ponderou
Zuara
- Sim , natural que ele fique um
tanto contrariado ; mas na medida da sua contrariedade, pela sua reação você
perceberá o que ele nutre por você ! Você não quer mesmo saber ?
Zuara achou razoável o conselho do Guia Espiritual e decidiu que
assim iria proceder. Vez em quando ia
visitar seu irmão , que ainda o tratava com certo distanciamento e frieza ,
quem sabe até se incomodava ali com a presença de Zuara, que aguardava então
uma oportunidade de poder pôr em prática
o plano sugerido pelo Guia Espiritual para enfim saber o que nutria por ele seu
irmão.
Uma vez, quando visitava seu irmão , enquanto
conversavam as coisas amenas de sempre , seu irmão recebeu a visita de um
vizinho que lhe pediu que fosse à sua casa para lhe ajudar em algo que
acontecia com seu carro. O irmão de
Zuara então lhe falou que aguardasse que já voltaria , pois ia socorrer o
vizinho. Era a oportunidade. Andarilho foi até onde seu irmão guardava o
dinheiro e pegou um cédula de valor razoável e pôs sob o tapete . Escreveu um
bilhete que deixou sobre a mesa
explicando que houvera sido acometido de pressão alta com uma forte dor na
cabeça, que precisava urgente tomar um
remédio , e que como não tinha dinheiro no momento pegou dinheiro guardado na
gaveta mas que devolveria em seguida. Escreveu ainda que não mais esperasse por
ele naquele dia pois após tomar o remédio deveria ir pra casa descansar.
A reação do irmão de Zuara foi ainda
pior do que imaginado talvez até pelo Guia Espiritual: quando no dia seguinte,
se dirigindo à casa do irmão para constatar sua reação, ouvindo o que ele lhe
tinha a dizer, ao passar em frente a um mercadinho ouviu alguém lhe chamar “ ladrão !” . Zuara a este então se chegou para pedir
explicações sobre sua palavra , e então ficou sabendo que seu irmão falara a todos
daquela vizinhança que aquele irmão que lhe vinha visitar era um ladrão ; que
havia ido à sua casa para roubar-lhe. Visto isso , Zuara resolveu que nem iria mais à casa de
seu irmão mais, pois já sabia a resposta do que duvidava: seu irmão não o tinha
em consideração de boa amizade. Resolveu antes passar na casa do vizinho que
naquele dia o chamara para ajudar com o carro e, lhe explicando a situação , que queria
presentear seu irmão , mas que estava em dúvida quanto ao sentimento do seu
irmão por ele e resolveu agir assim para testar seu sentimento , segundo o Guia
Espiritual orientou ; explicou que o dinheiro estava debaixo do tapete e que
quando de fato o perdoasse por alguma mágoa dos tempos de cólera que o procurasse
, que o estaria sempre disposto a aceitá-lo como irmão.
O vizinho de seu irmão apenas
comentou :
- A adolescência é uma idade muito
difícil e geralmente os irmãos mais velhos sevem de orientação para os mais
moços. Certamente seu surto deixou a todos confuso em sua família , mas
principalmente a ele que vinha crescendo na adolescência e podia lhe ter como
referência. Certamente que deve guardar alguma grande decepção pelo seu
comportamento doentio ; talvez até o fizeste chorar...
- Mas talvez já fosse tempo de
compreender , não ? – Zuara ponderou -
Ele já não é tão criança. A gente não surta porque quer ; simplesmente perde o
controle ; e tem sentimentos profundos envolvidos.
- Talvez ainda não chegou o seu tempo
de compreender ; de aceitá-lo então... – Considerou o vizinho.
- É , talvez... – Dizendo assim, Maurici Zuara se despediu do
vizinho de seu irmão com um forte aperto de mão e se foi...
Deixaria o presente guardado o tempo que fosse... Estava em paz com sua
consciência... Havia visitado todos os seus , após retornar... Era hora agora
de cuidar da sua vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário